Novos tempos
Um dia destes estive com um Amigo que tem perto de 60 anos e me disse:
-Sabes uma coisa que descobri? Nem tudo é mau nesta coisa de estar desempregado.
-Então?
-Como já falamos por diversas vezes, toda a minha vida me vi rodeado de uns gajos melgas que não me largavam a porta, queriam constantemente saber de onde vinha para onde ía e que também iam comigo. Muitas vezes tive de fazer das tripas coração para não os mandar desampararem-me a loja. Finalmente, eis que descobri a solução.
-Então?
-Com o aproximar da época natalícia e o fim do ano, lembrei-me e fui dizendo à malta que a construtora onde trabalhava faliu e me encontrava desempregado, então, se por acaso algum, ou no grupo dos amigos deles, soubesse de um buraco para me encaixar, nem que fosse a fazer de Pai Natal ou de palhaço (que é o sentimento que mais me tem atormentado ultimamente) que se lembrassem de mim. Olha, de repente dou por mim a vê-los fugir de mansinho, a desaparecerem, como se eu tivesse peçonha. Devem pensar, não vá o tipo acabar por pedir algum emprestado o melhor é afastarmo-nos. Bem, tem sido de tal ordem que até mesmo com familiares isso já aconteceu. No outro dia até comentei com a minha, se me tivesse passado isto pela cabeça, há muito tempo que a minha vida tinha levado outro rumo. Felizmente ainda não foi preciso, e se o fosse, acho que eu, antes morria à fome ou à sede, a ter de passar pela humilhante situação. Contudo, se andava distraído é bom que tome nota dos amigos que fui juntando e já agora não vou deixar de aproveitar a passá-los todos pelo teste do algodão.
Vim de ao pé dele a pensar…