Aqui há uns anos fez-se um grande barulho porque se tinha de pagar ordenado especial de 20.000€ a alguém que era competentíssimo, para ir para os impostos.
Passados estes anos todos é a mesma pessoa que exigia aquele salário, que oferece baixa de salário (de 3,96€ /hora) aos enfermeiros.
Ouvi ontem, num canal de televisão, um debate sobre a constitucionalidade do corte dos subsídios.
Nele, o Dr. Marinho Pinto afirmava que os juízes eram funcionários públicos (funcionários do Estado digo eu), que também lhes doía os cortes nos subsídios e como tal julgaram em causa própria.
Muitos deles inclusivamente têm as mulheres também a trabalhar no Estado e são logo dois o que faz muita mossa, o dinheiro dá muito jeito a todos, trabalha-se para conseguir dinheiro. Veja-se até o Presidente da República que se veio queixar, porque também lhe mexeram nas reformas.
Sabemos que os juízes do Constitucional deram a volta ao assunto porque o que se passava era que o Estado, tendo necessidade de cortar nas despesas, cortou nos subsídios a pagar aos funcionários e não criou um imposto (se bem percebi).
É de conhecimento geral que os funcionários públicos tinham um tipo de regalias como a segurança no emprego, ganhavam mais e não estavam sujeitos a redução de ordenados e aos dissabores que os dos privados têm.
Logo, uma vez que o patrão passa por dificuldades e não pode pagar os subsídios (como quando uma empresa não vende e reduz ordenados e gastos com pessoal), era aceitável a medida.
Aliás, nunca antes o Tribunal Constitucional se preocupou com o facto de os funcionários do sector privado tivessem menos regalias, só agora que lhes tocou pela porta é que reclamam que é discriminatório serem chamados a sacrifícios, que não são para a generalidade da população.
Já a Ministra da Justiça teria vindo a Público pressionar o Tribunal Constitucional porque este não podia decidir contra a decisão do governo, pois seria o descalabro nos compromissos assumidos internacionalmente, mas mesmo assim o Tribunal não lhe deu ouvidos.
Eu não estou sempre do lado da visão do Dr. Marinho Pinto, mas aprecio o seu lado diferente de ver as coisas e o de não perder uma oportunidade para espetar uma alfinetada nos seus inimigos e os atacar com coragem e destemor.
No entanto, desta vez acho que tem alguma razão porque, no fundo, a sociedade dá cada vez mais sinais do quanto são mesquinhos e egoístas as actuais personalidades que pululam na nossa praça. Veja-se o caso das reformas do PR, o caso do Relvas, o caso do Catroga/Edp, o caso da CGD, o caso do Metro do Porto, o caso dos boys em cargos públicos, o caso dos subsídios de férias dos dirigente/consultores do governo, o caso dos enfermeiros a 3,96€, os médicos a 4€, do arquitecto a 500€, dos salários que estão a ser oferecidos a quem procura emprego (basta consultar as ofertas de emprego que estão na internet), etc.
Toda a gente olha a forma de tirar o máximo ganho e o mais rapidamente possível.
Quer-se um funcionário formado, a dominar línguas, a dominar informática, bem vestido, boa imagem, culto, etc. a troco de 500€, a actualidade dos mercados não permite pagar mais, e nós a vermos as facturações, eles a vangloriarem-se dos ganhos conseguidos, a fazerem vidas faustosas, contas chorudas em paraísos fiscais.
Tem razão Dr. Marinho Pinto, há muita gente e gente a mais por todo o lado que apenas olha para o seu umbigo.
É tempo de dizermos que não nos tomam por parvos e terem de gramar com as verdades escarrapachadas na cara.
Quem não é bonito antes dos 20 anos, forte antes dos 30 anos, sensato antes dos 40 anos, rico antes dos 50 anos, não se pode dizer que seja um tipo muito sortudo.